As fronteiras da liderança e do equilíbrio emocional

A busca pela saúde mental é um dos grandes paradigmas da vida contemporânea e se coloca entre as mudanças positivas de um panorama social que, por muitas décadas, relegou a segundo plano a importância do cuidado com tudo aquilo que concerne ao nosso equilíbrio psicológico e emocional. Já em 2022, um estudo feito pela Associação Brasileira de Psicologia da Saúde indicou que, mais de 80% dos psicólogos tiveram aumento de demanda de pacientes.

Certamente, essa atenção ganhou um enfoque claro ainda no cenário de pandemia, mas se mantém como uma diretriz dentro de nossa sociedade que, em contrapartida, vê uma crescente no número de casos clínicos que vão do “simples” estresse as crises de ansiedade – e isso entre cidadãos de diferentes faixas etárias e advindos dos mais diversos contextos culturais e socioeconômicos.

Esse crescimento não é por acaso: quando passamos a investigar com mais profundidade nossos desafios e questões essenciais; é natural que outros tantos desafios e questões surjam na nossa jornada de evolução pessoal e em meio a complexidade que carrega em si cada indivíduo.

Na outra ponta, também não causa estranheza o fato de que os debates em torno da saúde mental tenham alcançado a esfera das relações de trabalho, afinal de contas, uma parte significativa de nossas vidas é dedicada às construções de nossas trajetórias profissionais. Nesse sentido, parece possível afirmar:

● Que nosso equilíbrio emocional é a fonte primeira para que possamos ter performances de excelência no trabalho;
● Muitas vezes, aquilo que nos desequilibra está relacionado direta ou indiretamente com nosso momento profissional presente.

Pensemos, por exemplo, na relação entre líderes e colaboradores: de que modo um líder pode influenciar positivamente ou mesmo inspirar seus talentos em uma trilha de autodesenvolvimento e de busca pelo equilíbrio? Qual seu papel quando os impactos negativos na saúde mental se ligam ao trabalho? Como o colaborador pode reforçar sua inteligência emocional de modo proativo? Ao longo deste artigo, procuro refletir sobre essas tão fundantes perguntas. Me acompanha?

 

Saúde mental e mercado

Para começarmos a trilhar um caminho em torno dessas questões, é interessante analisarmos algumas estatísticas que demonstram como a pauta da saúde mental se tornou, em maior ou menor grau – pois isso depende da maturidade gerencial e do entendimento dos recursos humanos enquanto uma base estratégica para o sucesso – um vetor para organizações contemporâneas.

Sobre esse ponto, um estudo recente da Deloitte indicou que 80% das corporações encaram o bem-estar dos colaboradores como um elemento central de suas estratégias de negócio; ao passo que 61% das companhias entrevistadas pretendem aumentar os investimentos voltados aos programas de saúde mental.

Por sua vez, um levantamento da FGV indicou que, para enfrentar o dilema de aumento de casos de transtornos psicológicos nas empresas, identificou um aumento na oferta de benefícios nas organizações; enquanto que, segundo reportagem do Portal Mundo RH de 2023, a procura por auxílio psicológico cresceu 44% nas empresas.

 

Liderança inspiradora X Liderança tóxica

Mas aqui é importante deixar o alerta: conforme observado pela própria FGV, somente ofertar benefícios não é considerado suficiente pelos colaboradores e o estudo também indica que o “papel das lideranças é central na articulação de qualquer política de saúde mental”.

Por mais evidente que pareça esse ponto – uma vez que o líder é aquele que acompanha um colaborador durante toda a sua jornada em uma empresa, oferecendo direcionamentos que podem potencializar (ou afetar) seu desempenho –, nem sempre nos damos conta do quanto uma liderança positiva se traduz em indicadores de crescimento para as corporações.

Nesse sentido, a Harvard Business Review já quantificou, por exemplo, que líderes inspiradores geram duas vezes mais engajamento e comprometimento. Já uma pesquisa da Bain indicou aumentos em rentabilidade (21%) e redução de turnover próxima de 60%.

Na linha contrária, a chamada liderança tóxica – composta por uma série de características que podem incluir desde o microgerenciamento e a falta de estímulo a confiança dos colaboradores, até comportamentos moralmente abusivos, agressividade e não confiáveis – têm impactos diretos na saúde mental para 69% dos entrevistados em amplo estudo da The Workforce Institute, impulsionando o desejo de mudança de emprego em até 12 meses para mais de 64% dos participantes da pesquisa.

Assim, falar em saúde mental é falar também no desenvolvimento de lideranças pautadas por uma filosofia e mentalidade humanizada que priorize o equilíbrio e bem-estar de seus times. E esse anseio não é apenas uma questão de empatia: os transtornos mentais, segundo a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), provocam uma perda de nada menos que de R$ 397,2 bilhões ao ano para as empresas.

 

O caminho do equilíbrio é também uma jornada individual de autodescoberta

Bons líderes, inclusive, assumem a capacidade de inspirar comportamentos proativos na busca pelo equilíbrio emocional. E esse é um legado único para a vida de alguém, já que nossa rota de autodesenvolvimento é também uma estrada na qual caminhamos individualmente, fazendo nossas próprias descobertas internas e em relação ao outro, aos nossos anseios profissionais e existenciais.

É assim que formamos novos líderes: por meio da inspiração que pode, por fim, fomentar uma cultura de liderança no Brasil pautada por humanização, excelência e a proatividade que nos dá a certeza de que somos os principais responsáveis pelo nosso próprio equilíbrio e crescimento.